Depois de uma disputa que atrasou em um dia o anúncio, foi
divulgada a chamada ‘lista suja’ de países que não cumprem as regras da
Organização Internacional do Trabalho (OIT). O Brasil foi incluído na lista por
desrespeitar a Convenção 98, que trata do tema “negociação coletiva e
representação sindical”, já que a reforma Trabalhista, (Lei 13.467/2017)
permite que o negociado sobre o legislado valha em todos os casos, inclusive
quando retira direitos dos trabalhadores.
O atraso na divulgação da lista, durante a 108ª Conferência
Internacional do Trabalho da OIT, em Genebra, na Suíça, ocorreu por causa da
pressão do governo brasileiro que, aliado aos empregadores, apresentou
argumentos mentirosos para o país não ser investigado, segundo o secretário de
Relações Internacionais da CUT, Antonio Lisboa.
“Houve uma disputa para que o Brasil não entrasse, sob o
argumento de que a reforma Trabalhista modernizou as relações de trabalho,
favoreceu negociações coletivas e foi criada para gerar empregos”.
“Pura mentira”, critica Lisboa. “Eles argumentaram também que
há uma intervenção da OIT na legislação nacional para ditar regras e interferir
no ordenamento jurídico do Brasil, mas também é mentira porque o país ratificou
a Convenção 98 e como não está cumprindo, é justo que entre em análise”.
Ficou claro, na avaliação de Lisboa, que o governo brasileiro
não quer ser investigado ou cobrado por violar as normas por interesses
econômicos. Mais uma vez, fica provado que a reforma Trabalhista é uma farsa.
Foi feita para retirar direitos e enfraquecer tanto a negociação coletiva como
a representação sindical.
A denúncia à OIT foi feita pela CUT durante a 106ª
Conferência da OIT em junho de 2017. O Brasil foi incluído na lista ampla de 40
casos a serem observados.
A nova lei Trabalhista foi sancionada pelo ilegítimo Michel
Temer (MDB) em novembro daquele ano e os resultados até agora são exatamente o
que as organizações sindicais previram. Desde então, o que aumentaram foram as
taxas de desemprego, subemprego e a informalidade.
Trâmites
Uma vez na lista, o caso segue para a análise da Comissão de
Aplicação de Normas da OIT. O governo brasileiro apresentará sua defesa e a CUT
reforçará o argumento de que a reforma Trabalhista fere a convenção. Após o
debate os peritos analisam as defesas e, então, apresentam conclusões que,
segundo Lisboa, têm que ser aprovadas pelas partes.
Caso as conclusões das análises confirmem a violação, o país
pode sofrer consequências diplomáticas, como boicote econômico de outros países
ou blocos que se recusam a negociar com quem não cumpre tratados, sejam
trabalhistas, ambientais ou de qualquer espécie e, por outro lado,
consequências jurídicas.
A OIT pode recomendar que a justiça trabalhista brasileira
observe com rigor as normas da convenção ratificada pelo país. Segundo Lisboa,
os tribunais brasileiros, em eventuais julgamentos de ações, já levam em
consideração essas regras, ou seja, se há denúncia sobre acordos coletivos em
que se retirou direitos, os tribunais devem corrigir, de acordo com as normas
da OIT.
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