Após conquistar avanços significativos para a categoria de vigilantes, sendo a mais recente a garantia do adicional de 30% de risco de vida/periculosidade, a Confederação Nacional dos Vigilantes (CNTV) deu início, em junho passado, à Campanha pelo Piso Nacional de R$ 3 mil. O movimento é resposta ao anseio da categoria de ter seu trabalho devidamente reconhecido e remunerado e tem levado ao debate aquilo que os trabalhadores decidiram.
Assim como outras batalhas já travadas pela categoria, a conquista do piso de R$ 3 mil exigirá esforço, dedicação e, principalmente, unidade. Isto porque o Projeto de Lei (PL) 4238/2012, que trata sobre o assunto, estipula salários que podem variar entre R$ 800, R$ 900 e R$ 1.100, dependendo do grau de risco a que o vigilante está exposto. O PL é de autoria do senador Marcelo Crivella (PRB-RJ) e apresenta este conceito, que é contestado pela CNTV.
A Confederação entende que não existem faixas específicas de perigo. “Todos os trabalhadores correm risco de vida e sofrem pressões internas e externas que impactam na sua saúde e segurança. Os trabalhadores morrem em qualquer lugar, seja em uma escolinha infantil, em um banco ou em um carro-forte”, explicou o presidente da CNTV, José Boaventura.
Para ele, a periculosidade é a mesma e o salário base deve ser unificado nacionalmente. O princípio do Piso Nacional e sem escala de risco conta, inclusive, com a manifestação favorável do patronato. Durante a mesma audiência pública, o presidente da Federação Nacional de Empresas de Segurança e Transporte de Valores (Fenavist), Odair Conceição, apresentou um estudo mostrando as pequenas variações entre a média dos salários pagos atualmente. Para ele, é possível que os valores pagos de norte a sul do país sejam padronizados.
Para Boaventura, esta é uma oportunidade para negociar uma proposta que atenda aos interesses dos vigilantes. Segundo ele, os trabalhadores do setor já são experimentados em queda de braço e a negociação do valor é que vai estar em jogo. “Esta será uma briga para definir valores. Sobre o conceito de piso nacional, até os patrões já concordaram que é necessário ser implementado”, afirmou Boaventura.
Este é um dos motivos pelos quais o relator do PL, deputado Nelson Pellegrino (PT-BA), defende uma ampla discussão sobre o assunto. Outro motivo é a existência de mais de 100 apensos abordando temas relacionados à remuneração dos vigilantes e à segurança privada, bancária, entre outros.
Para o secretário de Finanças da CNTV, Jervalino Bispo, “esta é a forma que temos de unificar os salários dos trabalhadores em um valor maior do que o existente e valorizar a categoria por igual a nível nacional, pois mesmo nas regiões sul e sudeste do país, que são os lugares considerados mais ricos, os pisos não são os maiores da categoria. Somente com piso nacional podemos tratar toda a categoria como igual”.
Por que R$ 3 mil?
O valor de R$ 3 mil está contido no plano de lutas e foi aprovado em outubro de 2013 durante o II Congresso Extraordinário da CNTV. “O salário defendido pelos vigilantes leva em consideração informações sobre salário mínimo fornecidas pelo Dieese, além de acréscimo pelo desgaste físico e mental decorrente da atividade desenvolvida”, explicou Boaventura.
A afirmação sobre o desgaste físico e mental é comprovada por dados. De acordo com pesquisa realizada pela CNTV e Contraf-CUT, em 2013 houve um crescimento de 14% nas mortes relacionadas a bancos em relação ao ano de 2012, sendo que 10% das vítimas eram vigilantes.
Além de mais investimento em segurança por parte dos bancos, os vigilantes cobram também que a lei vigente seja atualizada. "Queremos regras para que possamos de fato preservar a vida das pessoas, preservando a nossa, com condições de oferecer um serviço que seja de qualidade. É óbvio que um piso salarial digno vai trazer mais valorização e mais qualificação para estes profissionais", disse José Boaventura.
Piso Nacional dos vigilantes, uma luta da classe trabalhadora
Ações que têm como objetivo a valorização de uma categoria, seja qual for, não devem ser apenas internas, somente dos que possuem interesse direto. Ter esta consciência é, segundo o secretário de Relações Intersindicais da CNTV e membro da executiva nacional da Central Única dos Trabalhadores (CUT), Roberto Miguel de Oliveira, um item fundamental na construção de campanhas vitoriosas em benefício dos trabalhadores.
“Uma das bandeiras da CUT é a luta pela educação, e sempre ouvimos que a defesa não deve partir apenas dos profissionais deste ramo. A mesma coisa sobre a saúde: a luta por tudo o que diz respeito a esta área não pode ser apenas desta categoria, mas de todos. Digo o mesmo sobre a valorização dos vigilantes. Garantir qualidade de vida e remuneração justa não deve ser uma luta só nossa, mas de toda a CUT, de todos os trabalhadores”, defendeu.
Segundo Roberto Miguel, é função também da CUT fazer com que outras categorias se engajem nesta nova batalha. “A CNTV é filiada à CUT e representa os vigilantes na estrutura da Central. A luta pelo piso nacional não é, portanto, uma luta que interessa somente a um sindicato, federação ou confederação, mas aos trabalhadores de modo geral. Por isso, a CUT deve se engajar na organização neste novo embate, que certamente terá como desfecho a vitória não só dos vigilantes, mas de toda a classe trabalhadora brasileira”, enfatizou.
Parlamentares manifestam apoio à nova campanha dos vigilantes
Parlamentares que já possuem longa história de parceria com os trabalhadores brasileiros já declararam total apoio à luta da categoria pelo piso nacional de R$ 3 mil. O deputado distrital Chico Vigilante (PT/DF) e os deputados federais Erika Kokay (PT/DF), Eudes Xavier (PT/CE) e Nelson Pellegrino (PT/BA) estão juntos com a categoria neste novo embate.
“Nós estamos iniciando uma grande luta. É a luta pelo piso nacional dos vigilantes. Hoje nós temos 27 Estados, contando com o DF, e 27 salários. Vigilante é uma categoria com a mais alta responsabilidade e por isso precisamos ter um piso mínimo nacional unificado. A nossa luta pelo piso de R$ 3 mil é uma luta real, verdadeira, e que está sendo desenvolvida também no Congresso Nacional, mas precisamos da ajuda de toda a sociedade, especialmente dos vigilantes”. (Chico Vigilante)
“A definição de um piso nacional é imprescindível para a valorização da categoria, que vive uma disparidade discriminatória de remuneração salarial. Um dos pontos fundamentais na discussão é a consolidação de um estatuto da segurança privada que inclua diretrizes sobre a jornada, remuneração e formação continuada desses profissionais. Ou seja, mecanismos que assegurem os direitos destes trabalhadores”. (Erika Kokay)
Fonte: CNTV
Fonte: CNTV
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