quinta-feira, 10 de novembro de 2016

Suicídio de trabalhadores e Gestão irresponsável: uma ligação direta

O modo de gestão ao qual os vigilantes estão sendo submetidos e que inclui humilhação, ofensa, cerceamento da liberdade, péssimas condições de trabalho, entre tantos outros problemas, tem impacto profundo na saúde mental dos trabalhadores. Segundo o doutor em Psicologia Carlos Carrusca, não é possível desconsiderar essa realidade quando se trata dos problemas psicológicos desenvolvidos e que frequentemente têm levado ao suicídio.

As afirmações foram feitas durante a 14ª Conferência Nacional dos Vigilantes realizada pela Confederação Nacional dos Vigilantes (CNTV) nos dias 3 e 4 de novembro, e contou também com a participação do Procurador Geral do Trabalho e membro do Conselho Nacional do Ministério Público do Trabalho Dr. Otávio Brito Lopes.

Carrusca afirmou que é comum atribuir a depressão a problemas enfrentados em casa e ignorar completamente a realidade laboral – maior parte no dia dos trabalhadores. Os problemas enfrentados diariamente pelos vigilantes os levam ao limite e isso não pode ser desconsiderado nas análises do trabalho. “Não é possível, no contexto de trabalho, desvincular o suicídio do controle de gestão das atividades exercidas”, afirmou.

Isso tudo porque tanto o estresse póstraumático – que é um transtorno crônico e deve ser tratado – quanto o suicídio acontecem de forma progressiva e são muito comuns na categoria de vigilantes. Segundo Carrusca é preciso avaliar também, no caso de suicídio, o que a pessoa estava vivendo antes de consumar o ato, incluindo contexto da vida em geral e do trabalho.

Psicotécnico não deve ser apenas para reprovar ou aprovar vigilantes

A forma como os testes psicotécnicos vêm sendo utilizados atualmente também gerou críticas. Carrusca afirmou que eles não devem ter a mera função de aprovar ou reprovar vigilantes em exames psicológicos, mas de identificar situações de sofrimento e dar o encaminhamento necessário.

“Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), a maior parte dos suicídios pode ser prevenida se as pessoas receberem apoio” argumentou. Além disso, para evitar o autoextermínio é fundamental que se cuide das condições de trabalho. “Isso seria capaz de evitar atos extremos por um simples motivo: esses trabalhadores vivem em realidades extremas que lhes negam o direito de viver com dignidade. É preciso mudar essa realidade, e isso inclui também melhoras as condições de trabalho”, afirmou.

Combate à precarização nas condições de trabalho

Para o Procurador Geral do Trabalho e membro do Conselho Nacional do Ministério Público do Trabalho Dr. Otávio Brito Lopes o que gera proteção aos trabalhadores não é apenas a lei, mas também a fiscalização. “E isso é feito pelo Estado, pelo Ministério Público do Trabalho, pelos sindicatos. Infelizmente esse sistema começa a ficar capenga, e como ficará o trabalhador?”, argumentou.

Lopes alertou para a tendência que o Supremo Tribunal Federal (STF) vem tendo de dificultar a vida do trabalhador. “Antigamente, quando o trabalhador sabia que tinha a Súmula 277 a seu favor ele negociava, esperava, voltava a negociar, porque na pior das hipóteses continuaria valendo as regras da convenção anterior. Agora, não”, afirmou.

“O ideal agora é começar a negociação seis meses antes da data-base. Isso porque vencido o prazo de vigência da convenção, a categoria de um dia para o outro não tem mais nada, não tem piso, não tem seguro nem todas aquelas garantias inseridas no acordo coletivo”, explicou. “E isso tudo influencia diretamente nas condições de trabalho, que estão se precarizando e penalizando os trabalhadores cada dia mais”, afirmou.

Sindicatos devem atuar na prevenção do suicídio e cuidado da saúde mental dos vigilantes

Para o presidente da CNTV, José Boaventura, o tema não é secundário e deve receber atenção dos sindicatos. “Fizemos questão de trazer esse tema porque o adoecimento mental tem atingido trabalhadores de todas as idades. É comum ver vigilantes de 30, 28, 33 anos precisando de remédio para dormir”, contou.

Isso é resultado, segundo Boaventura, do estresse, da pressão no trabalho e das fatalidades como assaltos e mortes que são riscos no exercício da profissão. “As entidades precisam estar atentas ao que vem acontecendo na vida dos vigilantes e deve buscar meios para oferecer apoio e evitar que o número de suicídios seja cada vez maior”, orientou.


Fonte: CNTV

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