A notícia triste de que um vigilante da Embrasil Segurança
cometeu suicídio dentro da agência do Itaú onde trabalhava, região central de
São Paulo, acende um alerta para toda categoria. O trabalhador, de 31 anos,
chegou a ser levado para o Hospital das Clínicas com vida, mas não resistiu e
faleceu na terça-feira (23/7). Ele deixou a esposa.
A lição que fica é que a empresa não realizava o exame periódico
de avalição psicológica com seus funcionários. Aliás, a maioria das empresas de
segurança privada sequer acompanha a rotina de seus trabalhadores.
A lei 10.826/2003, em seu artigo 2º, parágrafo 2º é clara
que o exame deve ser realizado anualmente por psicólogos credenciados na
Polícia Federal.
“§ 2º A avaliação para a aptidão psicológica deverá ter
sido realizada em período não superior a 01 (um) ano do respectivo
requerimento.”
O secretário-geral da Confederação Nacional dos Vigilantes
(CNTV), Cláudio José de Oliveira, enumera as situações que levam ao aumento do
estresse psicológico entre os vigilantes. Uma delas é o acúmulo de função e a
pressão para que os empregados desempenhem várias ocupações, muitas vezes sem
treinamento, o que resulta em ameaça de demissão.
Mais especificamente no setor bancário, Oliveira aponta a
constante ameaça de roubos em agências que contam com cada vez menos dispositivos
de segurança, ou as ofensas e desrespeitos de clientes barrados nas portas de
segurança. Segundo o dirigente, é comum vigilantes verem ignorados seus pedidos
de transferência de agências onde foram desrespeitados.
Oliveira também enfatiza o atraso de salário, segundo ele,
prática recorrente no setor. “Muitas empresas pagam salário com 30, 40 dias de
atraso. O trabalhador dependendo do dinheiro para alimentar sua família e as
empresas atrasam o salário alegando falta de pagamento do contratante, situação
que é consequência da terceirização do setor. Esse cenário colabora para que o
trabalhador, sofrendo com estresse psicológico e com acesso a uma arma de fogo,
perca o controle e acabe cometendo um ato extremo”, afirma o dirigente.
A direção do Sindicato dos Vigilantes de Petrópolis e região
lamentou a morte do profissional. “Muitos às vezes não sabem as pressões que os
vigilantes sofrem. O acompanhamento psicológico e essencial para evitarmos situações
extremas como essa. Lamentamos muito a perda de um companheiro de trabalho,
ainda mais nessas circunstâncias. Vamos fiscalizar mais as empresas para que
elas cumpram a lei”, afirma Adriano Linhares, presidente do Sindicato.
O Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e Região também
prestou solidariedade à família da vítima e à categoria dos vigilantes.
As condições de trabalho cada vez mais degradantes
enfrentadas pelos trabalhadores podem estar atrás do ato ocorrido dentro da
unidade bancária, avalia o secretário de Saúde do Sindicato, Carlos Damarindo.
“Este não é um caso isolado e é significativo que tenha
ocorrido no local de trabalho. As condições de trabalho enfrentadas não só
pelos vigilantes, mas também pelos bancários estão se precarizando. A falta de
investimento em segurança, as jornadas extenuantes, as metas cada vez maiores,
as constantes ameaças de demissão ou perda de cargo, a falta de acompanhamento
das empresas que testemunham esse sofrimento físico e mental dos seus
trabalhadores e o assédio moral colaboram para que essas tragédias ocorram”,
afirma Damarindo.