O modo de gestão ao qual os
vigilantes estão sendo submetidos e que inclui humilhação, ofensa, cerceamento
da liberdade, péssimas condições de trabalho, entre tantos outros problemas,
tem impacto profundo na saúde mental dos trabalhadores. Segundo o doutor em
Psicologia Carlos Carrusca, não é possível desconsiderar essa realidade quando
se trata dos problemas psicológicos desenvolvidos e que frequentemente têm
levado ao suicídio.
As afirmações foram feitas
durante a 14ª Conferência Nacional dos Vigilantes realizada pela Confederação
Nacional dos Vigilantes (CNTV) nos dias 3 e 4 de novembro, e contou também com
a participação do Procurador Geral do Trabalho e membro do Conselho Nacional do
Ministério Público do Trabalho Dr. Otávio Brito Lopes.
Carrusca afirmou que é comum
atribuir a depressão a problemas enfrentados em casa e ignorar completamente a
realidade laboral – maior parte no dia dos trabalhadores. Os problemas
enfrentados diariamente pelos vigilantes os levam ao limite e isso não pode ser
desconsiderado nas análises do trabalho. “Não é possível, no contexto de
trabalho, desvincular o suicídio do controle de gestão das atividades
exercidas”, afirmou.
Isso tudo porque tanto o estresse
póstraumático – que é um transtorno crônico e deve ser tratado – quanto o
suicídio acontecem de forma progressiva e são muito comuns na categoria de
vigilantes. Segundo Carrusca é preciso avaliar também, no caso de suicídio, o
que a pessoa estava vivendo antes de consumar o ato, incluindo contexto da vida
em geral e do trabalho.
Psicotécnico não deve ser apenas
para reprovar ou aprovar vigilantes
A forma como os testes
psicotécnicos vêm sendo utilizados atualmente também gerou críticas. Carrusca
afirmou que eles não devem ter a mera função de aprovar ou reprovar vigilantes
em exames psicológicos, mas de identificar situações de sofrimento e dar o
encaminhamento necessário.
“Segundo a Organização Mundial de
Saúde (OMS), a maior parte dos suicídios pode ser prevenida se as pessoas
receberem apoio” argumentou. Além disso, para evitar o autoextermínio é
fundamental que se cuide das condições de trabalho. “Isso seria capaz de evitar
atos extremos por um simples motivo: esses trabalhadores vivem em realidades
extremas que lhes negam o direito de viver com dignidade. É preciso mudar essa
realidade, e isso inclui também melhoras as condições de trabalho”, afirmou.
Combate à precarização nas
condições de trabalho
Para o Procurador Geral do
Trabalho e membro do Conselho Nacional do Ministério Público do Trabalho Dr.
Otávio Brito Lopes o que gera proteção aos trabalhadores não é apenas a lei,
mas também a fiscalização. “E isso é feito pelo Estado, pelo Ministério Público
do Trabalho, pelos sindicatos. Infelizmente esse sistema começa a ficar
capenga, e como ficará o trabalhador?”, argumentou.
Lopes alertou para a tendência
que o Supremo Tribunal Federal (STF) vem tendo de dificultar a vida do
trabalhador. “Antigamente, quando o trabalhador sabia que tinha a Súmula 277 a
seu favor ele negociava, esperava, voltava a negociar, porque na pior das
hipóteses continuaria valendo as regras da convenção anterior. Agora, não”,
afirmou.
“O ideal agora é começar a
negociação seis meses antes da data-base. Isso porque vencido o prazo de
vigência da convenção, a categoria de um dia para o outro não tem mais nada,
não tem piso, não tem seguro nem todas aquelas garantias inseridas no acordo
coletivo”, explicou. “E isso tudo influencia diretamente nas condições de
trabalho, que estão se precarizando e penalizando os trabalhadores cada dia
mais”, afirmou.
Sindicatos devem atuar na
prevenção do suicídio e cuidado da saúde mental dos vigilantes
Para o presidente da CNTV, José
Boaventura, o tema não é secundário e deve receber atenção dos sindicatos.
“Fizemos questão de trazer esse tema porque o adoecimento mental tem atingido
trabalhadores de todas as idades. É comum ver vigilantes de 30, 28, 33 anos
precisando de remédio para dormir”, contou.
Isso é resultado, segundo
Boaventura, do estresse, da pressão no trabalho e das fatalidades como assaltos
e mortes que são riscos no exercício da profissão. “As entidades precisam estar
atentas ao que vem acontecendo na vida dos vigilantes e deve buscar meios para
oferecer apoio e evitar que o número de suicídios seja cada vez maior”,
orientou.
Fonte: CNTV